O Luís era um dos meus colegas de escola. Sempre calado, sempre encostado às paredes da escola, sempre com as mãos nas alças da mochila e sempre com a cabeça baixa, com os olhos postos no chão, o Luís era um miúdo estranho. Não tenho grandes memórias dele na sala de aula, mas lembro-me de que era bom aluno, escrevia sempre por cima de uma régua e se se enganasse a fazer um exercício, rasgava cuidadosamente a folha e começava tudo de novo.
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Um dia em que a professora de inglês pediu-lhe para ler uma "sentence". O Luís não falava com ninguém, não fazia perguntas, nunca abria a boca e a professora insistia com ele. Acho que ela devia ser nova na turma e ninguém a informou desta questão... eu expliquei que ele não falava, mas a professora não cedeu. Depois de elevações de voz e umas palmadas na mesa, o Luís acabou por ler baixinho, quase imperceptível.
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Chegava sempre atrasado, mas durante os intervalos era massacrado por algumas raparigas do grupo a que eu pertencia: falavam com ele a um milímetro de distância, tocavam-lhe no corpo, mexiam-lhe nos cabelos, faziam-lhe cocegas, gritavam-lhe aos ouvidos. Tudo porque o Luís não falava e tinha de falar! E quando ele começava a andar, a tentar escapar daquele martírio, aquelas anormais iam atrás dele a chamar-lhe toda a espécie de nomes.
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Devíamos ter uns 14 anos e nunca me esqueci do olhar que muitas vezes me dirigia, como que a pedir socorro, socorro que eu nunca lhe prestei.
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Perdoa-me.
6 comentários:
Olá, eu penso que em todas as escolas existe um Luis incompreendido...
Beijinhos,Sofia,Pedro e Joana
Incompreendido sim, Sofia, mal-tratado como este foi, não deveria haver nem um!
Nenhum professor, contínua ou aluno o ajudou, nunca vi lá os pais dele, nunca ninguém falou connosco sobre o assunto e nunca fizeram qualquer esforço no sentido de o integrar.
O triste é que hoje em dia, mais de 20 anos depois, os casos de Bullying continuam a existir como se fosse normal, como se fossem rituais de passagem ou de iniciação. São crianças que crescem sob uma violência a todos os níveis e que só poderão deixar marcas profundas para a vida...
Beijinhos!
Acredita que o teu post me tocou mto,pq sei o que é ser diferente.N ser "cm os outros".
Espero que o Lusi tenha encontrado o seu caminho e seja mto feliz.
Mamã Pirata, penso muito nisso, no Luís adulto...
Hoje em dia, depois de ter estudado na área de intervenção social, com um filho difícil, vejo tudo com mais clareza...
O Luis hoje...concerteza que é FELIZ:)))
Bjs********************
Maria, será que sim?... estou muito tentada em descobrir este meu antigo colega. Como moro no mesmo sítio onde nasci, acho que vou fazer uma busca...
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